Desesperar jamais…

Ontem, por um aplicativo de mensagem, uma grande amiga de Minas me perguntou há quanto tempo estou lidando com essa situação. Foram-se dois anos e meio ou mais. Perdi a conta! Dependendo do contexto, da circunstância, dois anos pode ser considerado “pouco”. Não pra mim. Neste inacabável período, convivi com o desconhecido, incertezas, com vários momentos de frustração e desânimos que beiravam a apatia. Relembro esforços inúteis na investigação de uma dor persistente e chata. Na verdade, muuuita dor. Limitante.

Enveredei por várias especialidades médicas, clínicas e exames. Ingeri medicamentos fortes pra ‘segurar a onda’ quando o mar estava revolto!! Verdadeiros “sossega leões” que me levaram, inclusive, até a Califórnia. Senti alguns dos seus efeitos colaterais no estômago e nos tufos de fios de cabelos ao chão, rs… (Um parênteses aqui ao mencionar o impacto para as mulheres, quando se trata de “cabelos”). rsss, Também não faltaram as inúmeras sessões de acupuntura e fisioterapia!!

No meio do imbróglio projetos e planos foram desviados para “o oxigênio” – termo que uso pra designar o “ponto de espera”. Aprendi com Motomura, um dos meus educadores. Resignei-me, repensei direções, desenhei e agi com passos novos, diria, adaptados. Tudo para lidar com o suposto “fracasso” frente a um “bicho desconhecido”. Confesso que tive dúvidas sobre a possível retomada dessas iniciativas.

Como “consultora de desenvolvimento executivo e de profissionais de gestão”, sempre compartilhei o conceito de “RESILIÊNCIA”, o que de forma simples e pelas minhas palavras é dar a volta por cima o mais rapidamente possível, independente do que houvesse acontecido. O lapso temporal de retomada significa o grau de resiliência atingido. Fracassos são úteis sim, mas podem ser breves. Pensava comigo mesmo: preciso segurar a onda e levantar a cabeça. Hora dessas isso se resolve.

À medida que o tempo passava e não apresentavam-se soluções ou uma maior clareza da origem, muitas dúvidas sobre o futuro me acompanhavam. Afinal, não sou mais nenhuma jovenzinha. rs.

Dá-me a tua mão desconhecida, que a vida está me doendo, e não sei como falar – a realidade é delicada demais, só a realidade é delicada, minha irrealidade e minha imaginação são mais pesadas.

Por Clarice Lispector

No decorrer desse processo cheguei a ganhar uma trégua. Alguns meses e uma esperança fez crescer a expectativa de que aquilo, o que quer que fosse, pudesse ter acabado. Infelizmente foi só um pequeno fôlego. Daí a pouco, o “monstrinho” voltou, e eu reiniciei a pesquisa. Essa frase representa bem o meu espírito naquele ponto: “é o que temos para hoje”.

Reflexões que estiveram comigo no percurso: Como segurar a ansiedade, a tristeza ou o desânimo nas antessalas diversas? Como manter o equilíbrio? Como cultivar a paciência e aliviar o cansaço na busca? Como desviar os pensamentos de “planos improváveis”? O que posso fazer com tudo isso? O que escolho fazer?

Quando meu olhar percorreu o vivido e analisei a forma como reagi a tudo me reconheci “na luta”. Algumas vezes só, outras vezes em boa companhia. Me reconheci na persistência e na teimosia em lidar com algo inquietante. Conversas com amigos que conviveram com sintomas similares me acordaram para alguns novos aspectos. Vestida de uma determinação atroz abri mais uma frente sem saber muito bem como iria terminar. Marquei com um profissional indicado por uma amiga-irmã. Lá fui eu. Novo “round”.

Não me canso de repetir: quanta gente boa tem no meu caminho, caaaaaraaaaaa!!! Com calma e impressionante experiência o doutor começou analisar a minha história, relatos, exames novos e antigos. Observou o caminho percorrido e reconheceu os excelentes profissionais pelos quais eu havia passado. Acessou tudo, inclusive laudos confusos e por vezes contraditórios, com uma tranquilidade de quem sabe o que está fazendo.

Estar nessa posição é desafiador e ao mesmo tempo, admirável. Significa ficar diante de um painel com inúmeros dados e informações e achar significados em tudo aquilo. Prá mim, uma leiga, isso me pareceu grande. Grande não, imenso. Afinal, a dor era minha. Só eu sabia seu porte e suas entranhas.

Enfim, ele diagnosticou uma situação um tanto incomum no meu quadro clínico e penso que sua experiência, competência e anos de estrada falaram alto. Pós centro-cirurgico, a dor, aquela antiga companheira das noites adentro, emudeceu-se. Ele extirpou aquilo!! Sem palavras!! (no words). Serei-lhe eternamente grata por me devolver perspectivas de vida!!! A ele e à sua equipe.

Por ser um médico desprovido de vaidade, diferente de muitos que conheço, fiquei na dúvida se ele gostaria de ser nomeado aqui. Dessa feita, optei por não fazê-lo.

Alguns daqueles planos do oxigênio começaram a ficar mais próximos!!! Possibilidades se desenham e vão fazer brilhar o meu caminho!!… eba!!

Lembrei da música do Ivan Lins e Vitor Martins, da década de 70: Desesperar jamais. Ela não deixa de ser um alento, um chamado à resiliência, paciência e persistência.

Tudo, de um jeito ou de outro, encontra seu caminho, encontra seu lugar. O que é seu é pra viver.

BJo

Segue a Letra e link com a música

Desesperar Jamais

Desesperar Jamais
Aprendemos muito nestes anos.
Afinal de contas, não tem cabimento.
Entregar o jogo no primeiro tempo.
Nada de correr da raia, nada de morrer na praia.
Nada, nada, nada de esquecer.
Do balanço de perdas e danos.
Já tivemos muitos desenganos.
Já tivemos muito que chorar.
Mas agora acho que chegou a hora de fazer valer o dito popular.
Desesperar, jamais.
Aprendemos muito nestes anos.
Afinal de contas, não tem cabimento. Entregar o jogo no primeiro tempo.
Nada de correr da raia, nada de morrer na praia.
Nada, nada, nada de esquecer.
Do balanço de perdas e danos.
Já tivemos muitos desenganos.
Já tivemos muito que chorar.
Mas…

5 respostas para “Desesperar jamais…”.

  1. Darlene querida entendo a complexidade do ser humano, mas fico muito perplexa com a dificuldade de diagnósticos que nossos médicos têm. Minha mãe foi tratada por 5 anos de doença errada, e, quem descobriu o que ela tinha, depois confirmado por expecialistas fui eu, a partir de um artigo de jornal. Acho inadmissível. Que bom poder superar estes maus momentos

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    1. Grata pelo comentário Ione. Infelizmente a medicina tem muito pra evoluir, especialmente na visão sistêmica que tanto desenvolvemos na TI. bjo querida.

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  2. Avatar de Cristina Matutino
    Cristina Matutino

    Darlene, que a Luz esteja sempre com você. Feliz por ouvir uma história forte e abençoada. E , parabéns pelo talento para converter em palavras tão positivas e motivadoras uma passagem de superação. Orgulho ter vc como amiga ! Saúde 🥂

    Curtido por 1 pessoa

  3. Avatar de Marlise Ribeiro Castanheira
    Marlise Ribeiro Castanheira

    Darlene, como amiga de sua mãe ,acompanhei sua longa e dolorosa jornada em busca de alívio . Parabéns por sua força e persistência. Louvo a Deus por ter encaminhado você à pessoa certa e pelo seu resultado alcançado. Agradeço também a Ele pelas pessoas- médicos, familiares, amigos, profissionais- que estiveram com você nesta caminhada. Desejo que tenha plena recuperação da sua saúde e atividades, sempre com um coração leve e agradecido.

    Curtido por 1 pessoa

    1. OBrigada Marlise pelas palavras de carinho e conforto. Sou iimensamente grata as oportunidades, que sempre me ensinam, de uma forma ou de outra. Bjo especial pra você.

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